Páginas

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CURIOSIDADES DE BARÃO GERALDO


OS TRES MITOS DE BARÃO
Eustáquio Gomes
Artigo escrito por ocasião dos 50 anos de Barão Geraldo (2003)
Três místicas douram a história dessa comunidade especialíssima que se chama Barão Geraldo.
Uma provém do próprio barão que lhe dá o nome – Geraldo de Rezende – que em tempos imperiais era anfitrião da fina flor monárquica no casarão da Fazenda Santa Genebra.
Outra foi gerada pelo pequenino Zeferino Vaz, um gigante da educação superior, o fundador da Unicamp.
 
E a terceira é o próprio halo de cultura e refinamento que cerca o distrito, esta espécie de Weimar dos trópicos onde não faltam desde fiéis do Santo Daime até intelectuais que influem nos rumos da República.
A primeira mística é a voz do passado, a segunda contém a história em processo e a terceira impõe o charme de uma comunidade que vive em ritmo e frequência próprios. Quantas comunidades no país, por exemplo, concentram tantos grupos de teatro experimental ?
A terceira mística tem a ver com a segunda . Em 1965, quando planejava o que seria a UEC (o termo Unicamp veio depois), Zeferino andava à procura de um lugar para instalar seu campus: uma área não inferior a 20 alqueires paulistas, com asfalto próximo e algum melhoramento público. Isto além de uma exigência de foro íntimo: “É preciso que a terra seja boa”. O mito do solo fértil para plantar edifícios era uma das obsessões de Zeferino. Gostava de contrapor a terra roxa e encaroçada de Ribeirão Preto, onde em 1952 fizera a sua Faculdade de Medicina, à vegetação retorcida e nodulosa do cerrado brasiliense, que lhe agradava pouco. Dizia que a aridez de Brasília influenciava negativamente o espírito da população e dava banzo nos deputados e senadores. Faltava ali o verde intenso das terras produtivas.
 
Um do seus conceitos da época: “Verde é clorofila e clorofila é para a planta o que a hemoglobina é para o homem. O homem sente isso e quando vê produção abundante e vegetação exuberante, é otimista, sente-se forte, com ímpeto de trabalhar, tem esperança e confia no futuro”.
Dessas exigências Zeferino não abria mão. Por isso recusou uma doação feita pelo fazendeiro Caio Pinto Guimarães para que o campus se instalasse em domínios da Fazenda Santa Cândida, onde depois se instalaria o campus I da PUC. O terreno era montanhoso e Zeferino o considerou pouco adequado. Uma outra possibilidade era a Chácara Taquaral, às margens da lagoa com o mesmo nome, na época pertencente ao Instituto Brasileiro do Café. Estava abandonada. Zeferino gostou do lugar, mas o IBC opôs férrea resistência e a ideia foi descartada.
Em 1966 Zeferino procurou seu amigo João Ademar de Almeida Prado, fazendeiro e industrial do ramo de geladeiras, que instalou Zeferino num jeep e viajou com ele alguns quilômetros em direção a Paulínia. O velho Zefa ficou encantado com o que viu: um extenso canavial entre fofas colinas, o solo quase vermelho sob as ramas verdes dos flamboyants, sibipirunas e paus-ferros. 
Um lago apareceu, edênico, entre as folhagens. O lugar ficava a doze quilômetros do centro urbano de Campinas. Eram as terras de Barão Geraldo. “Será aqui o meu campus”, disse Zeferino convicto.
E assim foi. E assim os três mitos se cruzaram, fecundaram-se e criaram a lenda do distrito que, mesmo não sendo cidade, age como tal. Meio século não é muito para que um lugar tenha a sua mitologia. Barão a tem.

NAMORO 
 

3 comentários: